OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO   

 

11 - O TEXTO POR TRÁS DO TEXTO DA BÍBLIA HEBRAICA

 

A Bíblia sobrevive em muitos manuscritos hebraicos e em várias versões antigas, traduzidas do hebraico.

Nos manuscritos medievais existem centenas, talvez milhares de diferenças, em sua m aior parte de pequena monta, raramente muito importantes.

Nas versões antigas, em especial na versão grega antiga (escrita no século III a.c. e comumente chamada de septuaginta) ocorrem milhares de variantes, muitas delas pequenas, mas também muitas de importância. Mesmo antes da descoberta de manuscritos bíblicos nas cavernas de Qumran e em outros locais do vale do Jordão, aqueles manuscritos e versões já proporcionavam aos críticos do texoto um rico acervo de recursos para suas tentativas de reconstrução da história do texto bíblico.

Entretandto, a história do texto da Biblia Hebraica foi perturbada e ofuscada por uma prressuposição, ou antes um dogma, vigente nos tempos antigos - entre os rabinos e também entre os padres da igreja - de que o texto hebraico era original e imutável, inaleterado pelas realidades ususais dos escibas que produzem famílias de textos e diferentes RECENSÕES em obras que sobrevivem durante longos períos de transmissão.

Este dogma da HEBRAICA VERITAS pode ser encontrado já no final do século I d.c., conforme indicação do historiador JOSEFO.

Orígenes, o padre da igreja, normalmente usava a versão grega antiga da bíblia. Mas também ele, ao que parece, presumia que sua biblia grega havia sido traduzida de uma base textual hebraica, que deveria ser igual ao texto rabínico em hebraico usado no seu tempo.Por conseguinte sua monumental obra HEXAPLA, ele corrigiu com cuidado seus manuscritos gregos conforme a hebraica veritas - incidentalmente com resultados desastrosos para posterior transmissão da biblia grega.

Jerônimo, no século IV, aplicou à bíblia latina o principio da "correção conforme o hebraico", substituindo as traduções latinas anteriores (baseadas na biblia grega antiga) por uma nova, que veio a ser conhecida como a VULGATA, um versão em latim traduzda da recensão rabinica oficial da biblia hebraica, em uso no seu tempo.

 

A biblia, antes da destruição de Jerusalém em 70 depois de cristo, não era PADRONIZADA, como é hoje.

Houve uma RECENSÃO BÍBLICA ( que é uma edição de texto antigo compreendendo uma revisão mais ou menos sistemática de uma forma ANTERIOR de texto).

É o que nos mostrou o estudo dos os manuscritos de qumran que pertence a períodos anteriores a 70d.c. em comparação com manuscritos encontrados ao sul de qumram e que pertencem a  período entre 70d.c. e 150d.c, e ainda aos textos atuais....

Nos textos BIBLICOS anteriores a 70d.c., existe uma GRANDE VARIAÇÃO entre vários livros iguais, já no grupo de textos descobertos ao sul de qumran e que pertencem ao pe´riodo de 70 a 150 d.c., já se pode perceber uma PADRONIZAÇÃO.

 

A investigação sobre os primeiros estágios da história do texto da biblia hebraica começou a ser feita cientificamente no final do século 18, mas os manuscritos existentes eram todos do período medieval, e os resultados foram decepcionantes para aqueles que esperava encontrar sinais das formas arcaicas do texto. Nada de muitas diferenças entre as variantes de texto, na sua maioria erros dos próprios compiladores medievais. Isto até reforçou a teoria do texto hebraico fixo e imutável....

 

Mas alguns dos mais argutos estudiosos do texto bíblico, no entanto, argumentavam que todos os manuscritos hebraicos medievais provinham de uma unica recensão, fixada no início da era cristã, e que somente esta sobrevivera nas comunidades judaicas. Assim, o acesso direto aos textos antes de recensão, se encontraria inviável.

O texto medieval da biblia se originava de um único arquétipo, ou de textos únicos de cada livro, que JÁ apresentava o padrão de erros encontrados nos manuscritos da idade média.

 

Finalmente com a descoberta dos manuscritos das cavernas de qumran, foi possível acessar o estágio antigo do texto hebraico da bíblia.

Das cavernas foram resgatados cerca de 170 manuscritos bíblicos.

Estes manuscritos foram COMPARADOS com outros resgatados de regiões próximas, em Murabaat, e da fortaleza de MASSADA.

Os de qumran provém de 250 a.c. até 70 d.c. e os dos outros lugares, são próximos a data da destruição de jerusalém em 70 d.c. ou bem mais tardios (135 d.c.)  e o fato  é que os 2 grupos de textos apresentam evidentes DIFERENÇAS.

o grupo mais NOVO tem um texto sem desvios significativos da RECENSÃO BIBLICA arquetípica, isto é, a recensão ancestral do texto massorético, a NOSSA biblia hebraica tradicional. Já os textos de QUMRAN apresentam outros tipos de textos.

Os dados extraídos dos manuscritos do sul, os mais novos, permitem concluir que antes do final do século I da era cristã foi promulgada uma recensão do texto da biblia hevraica, que exerceu enorme autoridade, ao menos nos círculos dos fariseus, e que veio a predominar na comunidade judaica no interval entre a queda de Jerusalém ante os romanos, em 70 d.c. e a repressão a segunda revolta judaica, em 135 d.c.

A situação dos textos de qumran, mais antigos,  é totalmente diferente. Os manuscritos de qumran não revelam influencias perceptíveis da padronização que caracteriza a recensão rabínica.

Encontramos neles evidencias de distintas e reconhecíveis famílias de tradição textual, incluindo tipos de texto diferentes da recensão rabinica.

As diferenças as vezes são imensas, e em certos casos os estudiosos descobriram que um manuscrito preserva uma tradição textual que não provém apenas de mudanças de texto em leituras individuais, mas tem sua origem numa edição de livro biblico totalmente diferente, em conteudo e tamanho da edição usada na recensão rabínica.

 

Por exemplo, existem 2 edições de Jeremias representadas nos manuscritos de qumran : uma longa, conhecida através da biblia tradicional, e uma menor que, além disso, difere na ordem dos oráculos proféticos. Existem 2 edições do saltério, uma da época persa, outra helenística. Existe uma literatura de daniel completa, da qual o livro de daniel é apenas uma das partes. Casos de edições diferentes de livros biblicos, no entanto, são relativamente raros.

 

Os manuscritos de qumran não somente apresentam provas de tradições textuais antigas, mas também identificam e delineam outras tradições textuais que sobrevivem desde tempos anteriores a era comum, incluindo a base textual hebraixa da tradução grega antiga, o fundamento da recensão samaritana do pentateuco e o tipo de texto que foi utilizado na recensão rabinica.

Nesse grande complexo de material textual foram identificados até 3 famílias de textos (pentateuco e samuel)

2 familias de textos (jeremias e jó) e 1 familia somente (izaías e ezequiel)

 

3 famílias de texto :

Cada forma de texto parece ter se desenvolvido lentamente entre os século V e I antes do cristo, nas comunidades judaicas da :

1-PALESTINA

2-EGITO

 3-BABILÔNIA.

 

o texto PALESTINO representa a familia dominante nos manuscritos de qumran, sua aparição mais antiga está nas citações do pentateuco e de samuel em crônicas. O texto pode ser classificado com expansionista, com fusões e glosas, acréscimos sinópticos e outras provas de intensa atividade dos escribas.

O pentatuco em escrita paleo-hebraica, uma derivação da antiga escrita nacional do Israel pré-exílio, é o melhor exemplo.

A segunda família de textos, que foi classificada de egípcia, é encontrada na tradução grega antiga do pentateuco (septuaginta), em reinados (versão grega de samuel e reis) e na breve edição de jeremias

A terceira família, classificada de babilônica, encontrada no pentateuco e em samuel, foram a base da recensão rabínica.

No pentateuco, esta forma aparece como um texto conservador, muitas vezes primitivo, apresentando poucas expansões e relativamente poucos traços de revisão e modernização.

 

Já nos pergaminhos encontrados mais ao SUL de qumran, e em MASSADA, que são bem MENOS antigos, os textos biblicos não apresentam a presença destas familias textuais,  estes textos já tem o tipo de texto oficial farisaico, que nos chegou até os dias de hoje, e isto nos permite concluir que a RECENSÃO, revisão, padronização, dos textos biblicos ocorreu  no tempo da destruição de jerusalém pelos romanos em 70 D.C. e passou a prevalecer no intervalo entre as 2 revoltas judaica, entre 70 e 135 d.c., justamente quando do domínio dos FARISEUS sobre a comunidade judaica sobrevivente e com a redução e o desaparecimento dos grupos rivais.

SEITAS como a dos cristãos e dos samaritanos continuaram existindo, mas apenas como comunidades separadas, isoladas da influencia farisaica.

o JUDAISMO RABINICO sobreviveu e com ele a RECENSÃO BIBLICA.

 

Esta RECENSÃO (padronização) bíblica foi promulgada como resposta e solução para uma crise de texto que evoluiu no final do período helenistico e inicio do romano.

A rrevolta dos macabeus, que eclodiu em 167 a.c. finalmente restabelecera um estdo judeu independente, que não existia desde a época em que os babilonios destruiram jerusalmen e o primeiro templo, em 587 a.c.

As vitórias dos macabeus serviram para estimular um renascimento sionist, fomentado ainda mais quando os partos expulsaram os judeus que retornavam em massa da BABILONIA, SÍRIA e EGITO para jerusalém.

 

No século I  antes de cristo e no I depois de cristo, textos e compilações locais concorrentes conseguiram chegar a juda, causando consideravel confusão, como mostra a biblioteca de qumran.

Além disto, o desenvolvimento incontrolado do texto de famílias isoladas tornou-se intolerável e precipitou uma crise textual, quando se sentiu a necessidade urgente de uma exegese doutrinaria precisa e legal (haláquica) no judaísmo helenistico.

A luta entre as facções começou em meados do século II a.c., com o surgimento dos FARISEUS, SADUCEUS e ESSÊNIOS

 

Pensa-se mesmo que os trabalhos de revisão e padronização ocorreram sob a supervisão de HILEL em pessoa, ou ao menos, a escola de doutores rabinicos que ele inspirou.

 

HILEL foi da babilonia para a pelestina e veio a ser a principal e mais criativa inteligencia do seu tempo, foi um gigante que deixou marcas indiscutiveis no farisaism e por muitas gerações seus descendentes diretos foram os  principais lideres da comunidade JUDAICA NORMATIVA.

 

"quando israel esqueceu a torá , ESDRAS chegou da babilonia e a restabeleceu, e quando israel voltou a esquecer a torá, HILEL, o babilonio, veio e a restabeleceu .... "

 

O CANON DA BIBLIA HEBRAICA E OS LIVROS EXCLUIDOS :

 

1-livros posteriores marginais excluidos atribuidos aos partriarcas pré-mosaicos, pseudo-epigrafos:

LITERATURA DE ENOQUE

VISÃO DE AMRAM

TESTAMENTOS DOS 10 PATRIARCAS (filhos de jacó)

 

2-livros posteriores marginais excluidos

BEN SIRA

MACABEUS

TOBIAS

JUDITE

BARUC

SABEDORIA DE SALOMÃO

EPISTOLA DE JEREMIAS

ADIÇÕES A DANIEL

 

3-canon da biblia hebraica:

PENTATEUCO ( genesis, exodo, levitico, numeros, deuteronomio)

PROFETAS ( josue juizes, samuel, reis, isias, jeremias)

12 PROFETAS MENORES (oseias, joel, amos, abdias, jonas , miqueias, naum, habacuc, sofonias, ageu, zacarias, malaquias)

ESCRITOS ( salmos, proverbios, jó , rute, lamentaços, esdras/neemias, cronicas)

 

4-livros posteriores marginais INCLUIDOS:

ECLESIASTES

CANTICO DOS CANTICOS

ESTER

EZEQUIEL

DANIEL

 

Porém acredita-se que os atos de inclusão e exclusão, e toda regra normativa, terminou somente no final do século I da era comum, no conselho de Yamnia (Yavneh)

 

(o conselho de yamnia é uma designação comum e um tanto enganosa de uma determinada sessão da academia ( ou tribunal) rabínica em Yavneh, onde se declarou que o Eclesiastes e o Cantico dos Canticos tornam as mãos impuras, quer dizer, são livros sagrados. a sessão em questão realizous-e aproximadamente em 90 d.c aproximadamente. A academia foi fundada por Yohanan ben Zakai, um discípulo de HILE. Foi presidida por Gamaliel II, descendente de Hile, durante grande parte do period entre as 2 revoltas judaicas contra roma. A academia, na verdade, ressucitou a instituição do SINÉDRIO, que exercera autoridade religiosa sobre a comunidade judaica, antes da destruição de jerusalém pelos romanos, em 70 d.c.)

 

Apesar das evidências a favor da influencia de Hilel, na promulgação de um texto e cânon farisaico, deve-se no entanto reconhecer que esse cânon e texto, não suplantaram de imediato as outras tradições nem mereceram aceitação uniforme mesmo nos círculos farisaicos. A ascendência do texto e cânon de Hilel se firmou com  a vitória do grupo dos fariseus e da casa de Hilel  no período entre as duas revoltas judaicas contra roma. Desde então, o texto e o cânon da biblia hebraica, a despeito de ocasionais questionamentos rabinicos sobre livros marginais, permaneceram fixos e preservados até os nosso dias.

 

 

(texto condensado e adaptado do artigo de Frank Moore Cross  por M.A.Müller , julho de 2007)

 

 

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