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Os
manuscritos de Qumran, que DIFEREM dos textos aceitos, além de
fornecerem dados para a história do texto bíblico, também contém
eventualmente leituras de excepcional interesse para a reconstrução do
texto original da bíblia.
Em
SAMUEL, no texto ACEITO, temos um sério confronto entr Saul e Naás, rei
dos amonitas. Saul sai vitorioso e, em consequência, é confirmado como o
primeiro rei de Israel.
No
relato bíblico que chegou até nós em 1 Samuel 11, Naás sitiou a cidade
israelita de Jabes Gileade; os homems da cidade pediram a Naás os termos
de rendição. Esses termos foram : além de os israelitas se tornarem
servos dos amonitas, os homens teriam o olho direito vazado. Os homens
da cidade, então, pediram o prazo de uma semana antes de aceitaar os
termos, para ver se seus correligionários viriam em sua ajuda. Saul,
sabendo da difícil situação, reuniu a milícia de Israel, cruzou o Jordão
e travou batalha com Naás e os amonitas. A vitória de Saul foi
esmagadora, liberando Jabes Gileade e , assim, demonstrando sua
lidenrança. Logo após, ele foi proclamado rei.
Porque
Naás resolveu atacar Jabes Gileade? Isto não é dito. A questão é
especialmente intrigante porque a cidade ficava ao norte, LONGE da
fronteira reinvindicada pelos amonitas. O caso é ainda mais interessante
porque o ataque de Naás além de causar sua própria derrota, foi a causa
de união de Israel e desencadeador do que originou o surgimento do
império israelita, sob o reinda de Davi, no final Amon se viu sob
dominio desse império.
O
ataque de Naás foi então fundalmental para o futuro tanto de Israel
quanto dos Amonitas.
Um
manuscrito dos livros de Samuel, datado do SÉCULO I A.C. (ANTES de
cristo), encontrado na caverna 4 de Qumran, contém uma longa passagem
que NÃO APARECE na NOSSA bíblia.
Introduzindo o capítulo 11 de 1 Samuel. Esse manuscrito ( designado
4qSam na literatura técnica) é o mais bem conservado dos textos bíblicos
da caverna 4.
O
manuscrito pertence a uma tradição de texto palestina, diferente do tipo
de texto usado na RECENSÃO RABÍNICA. Na verdade o texto de Samuel aceito
é famoso por seus lapsos de escrita, em especial as omissões, este
exemplo aqui relatado é só um em umá série de casos, em que os textos
desta caverna 4, preserva e revela as PARTES PERDIDAS do texto de
Samuel.
Eu vou
omitir aqui a página de texto bíblico usual de Samuel 1 11, porque dará
muito trabalho colocar aqui, o leitor interessado faça o favor de
consultar a sua bíblia....
mas
posso adiantar que neste relato é dito que Naás sitiou a cidade , mas
não é dito PORQUE, e como dissemos antes, é uma cidade muito fora da sua
região reinvindicada, o que então torna mais importante o conhecimento
de uma causa específica para ele fazer isto, o manuscrito de
qumran da caverna 4, trás o mesmo texto da bíblia, mas incluindo o texto
que falta, como o texto de qumran é de ANTES DE CRISTO, então ele é um
texto muito mais confiável e integral do que o texto bíblico que chegou
até nós nas nossas bíblias, veja a seguir o texto faltante em
itálico e amarelo:
Naás,
rei dos filhos de Amon, oprimia duramente os flhos de Gade e os filhos
de Rubem, e ele vazou todos os seus olhos direitos e infligiu terror e
morte a Israel. Não restou nenhum entre os filhos de Israel além do
Jordão que não tivesse o olho direito vazado por Naás, fei dos filhos de
amon, exceto SETE MIL homens que escaparam dos filhos de amon e entraram
em Jabes-Gileade. Cerca de um mes depois
, naás o asmonita, subiu e sitiou
Jabes-Gileade. Todos os homens de Jabes-Gilead disseram a Naás. "Faz um
acordo conosco e nos tornaremos teus súditos." Naás, o amonita, lhes
respondeu "com esta condição farei um acordo convosco, que todos os
vossos olhos direitos sejam vazados, para que eu imponha humilhação a
todo Israel" Os anciãos de Jabes lhe disseram: "concede-nos sete dias
para enviarmos mensageiros por todo o território de Israel. Se ninguém
vierm em nosso socorro, nos entregaremos a ti "
(
Quando então Saul sabendo disto, mandou esquartejar bois, e mandar para
todos os cantos de israel , dizendo que todos os israelenses aptos
deviam se juntar a ele, senão seus rebanhos teriam o mesmo destino
daqueless bois, para lutarem contra o Naás, e aasim reuniu um grande
exército)
O texto
que faltava revela as partes obscuras da história :
- Naás
dominava toda a área de um lado do Jordão, e nesta área de domínio ele
vazou o olho direito de duas tribos israelenses ( Gade e Rubem ) ,
porque VAZAR um ou os dois olhos, era um tipo de pena padrão para
insurgentes , rebeldes e traidores , naquela época e praticada por
vários povos e reinos.
- Desta
rebelião, na área de domínio dos asmonitas, 7.000 conseguiram escapar ,
foram para o norte, FORA da área de domínio do Naás, e se refugiaram na
cidade de Jabes Gileade.
- Naás
foi atrás deles, sitiou a cidade por este motivo, e foi também por este
motivo que seu único acordo era de vazar o olho direito de TODOS os
habitantes da cidade, porque ela havia dado abrigo a traidores ou
rebelados, que já mereciam este tipo de pena, e então era o mesmo que
devia acontecer a esta cidade.
---
Parece que o trecho omitido provavelmente se perdeu como resultado de um
lapso do escriba, no ato de passar de uma linha para outra, sua vista
saltou para uma bem mais abaixo, ambas começando pela palavra Naás.
---Se
alguém sugerir que esta parte fosse um "acréscimo posterior" ( ao
TEXTO ORIGINAL veja bem , aquele que não se conhece hoje em dia) , o que
chamam de expansão HAGÁDICA, não se nota qualquer indício disto, pois as
expansões hagádicas são colocadas com fins de DOUTRINA, onde se encontra
elementos edificantes, ou inclinação teológica, já o texto em questão
apresenta meramente FATOS, com conotação puramente histórica.
E ainda
tem-se uma série de sinais reveladores de que a passagem incluída estava
no original.
Por
exemplo, no texto aceito de Samuel, o rei dos amonitas, ao aparecer pela
primeira vez, é apresentado simplesmente como Naás, o amonita,
isto é um fato muito extra-ordinário. Nos livros de samuel e reis, ao
contrário, encontramos um padrão INvariável, quando um monarca reinante
de uma nação estrangeira é mencionado pela primeira vez, usa-se seu
título completo ou oficial. Fulano, Rei de .......... , pode-se contar
20 exemplos destes nos livros citados e ocorrem mesmo em toda a
história deuteronomica, e é quebrado esta regra somente no texto ACEITO
de samuel citado neste resumo, mas quando juntamos a parte que faltava
como revela o manuscrito antigo de qumran, está lá o Naás primeiramente
citado como o REI DOS FILHOS DE AMON....
E mais,
incidentalmente em outra descoberta arqueológica, em Tel Siran, um
inscrição amonita refere-se a NAÁS com o MESMO título : REI DOS
FILHOS DE AMON.
Agora
com este trecho que temos a partir da arqueologia de qumran, podemos
reconhecer que JOSEFO TAMBÉM o tinha em sua bíblia. em Antiguidadese
Judaicas ( 6. 68-70), pois parece parafrasear o texto de samuel
encontrado na caverna 4.
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2
Outra
importante área de estud que será grandemente afetada pelsa descobertas
dos manuscritos de Qumran é a história da religião bíblica , ou talvez
se deva dizer a EVOLUÇÃO da religião bíblica.
Hoje
podemos comparar os salmos do saltério canonico com o conjunto de hinos
helenísticos posteriores nos salmos encontrados na caverna 11.
Também
podemos descrever a evolução das leis da escravatura na palestina sob o
dominio da pérsia, com base nos papiros da Samaria.
Porém
onde a descoberta dos manuscritos de qumran causou mais impacto foi
sobre a nova visão do movimento apocalíptico e seu lugar na história dos
últimos tempos da religião bíblica.
O termo
apocalíptico normalmente evoca o livro de daniel, um exemplar posterior
e desenvolvido da literatura apocaliptica. A biblia também inclui um
apocalipse muito anterior no livro de isaías ( capitulos 24-27), cuja
data tem sido debatida há várias gerações de estudiosos da biblia.
Qumran no tras agora uma enorme literatura apocaliptica e obras marcadas
pela escatologia apocaliptica.
Conforme nos mostra a literatura de Qumran, os apocalipticos encaravam a
historia do mundo em termos de forças antagonica, deus e satã, os
espirtios da verdade e do erro, luz e trevas.
A luta
de deus com o homem e deste com o pecado. Temas dualistas de mitos
arcaicos se transformaram em itos HISTÓRICOS. O mundo, cativo das forças
do mal e de principados ( coros de anjos) que haviam recebido autoridade
nos tempos da ira divina, somente poderia ser libertado pelo poder
divino. Os adeptos do apocalipse viam, ou acreditavam ver, a aurora do
dia da slavação e do julgamento de deus. A era antiga havia chegado ao
fim do seu tempo determinado e a era da consumação estava proxima,
quando ,então, o mundo seria redimido, e os escolhidos inocentados.
O
messias estava prestes a chegar, o armagedon já havia começado, as
forças stanicas, encurraladas, ja se agitavam numa ultima convulsaõ
desafiadora, menifestada por perseguições, tentações e tribulações para
os fiéis. Em suma, os apocalipticos viviam num mundo onde a supremacia
de deus era a unica esperança de salvação.
O
apocalipsismo foi considerado geralmente um FENOMENO TARDIO e de vida
curta no judaismo. Essa visão, porém, está mudando, à luz da grande
quantidade de dados novoso e da pesquisa meticulosa que utiliza
informações antigas e novas.
As
partes mais antigas da literatura de ENOQUE , por exemlo, atribuidas a
uma geração antes do periodo romano ( após 64 a.c.) ou no máximo, ao
final do periodo helenistico ( seculo II ou inicio seculo I a.c.) devem
agroa ser redatadas para o final do periodo persa ( ´seculo IV a.c.) .
De fato temos um manuscrito de enoque de 200 a.c. , e
evidentemente não é o original . Estudos sobre a antiga literatura
biblica apocalitptica ( ou PROTO-apocaliptica) em especial o
apocalipse de Isaías ( isaías 24-27) demonstraram que a sua data deveria
ser fixada no século 4 antes de cristo. Na verdade as primeiras notas de
DUALISMO e ESCATOLOGIA surgem , como o declinio da profecia CLASSICA nos
seculos VI e V a.c. . E atualmente é reconhecido que as obras proto-apocalipticas,
juntamente com as apocalipticas posteriores refletem uma evolução
religiosa que se estendeu por mais de meio milenio.
No
inicio deste seculo e no seculo passado o apocalipsismo era pouco
mencionado nos estudos sobre a religiao de israel, era tratado como um
produto idiossincratico de alguns visionairos judeus, um fenomeno
marginal.
Veja
esta parte do texto, que ilustra bem a questão :
Para os
estudiosos cristão com ideias mais antigas, a religiao biblica se
desenvolveu segundo uma dialetica em que o "espirito livre, ético e
histórico" da religião profética ficou congelado num legalismo cujas "formas
escrazivantes e estaticas" marcaram a religião PÓS-EXILIO. Para eles o "espirito
livre e benigno " da era da profecia REapareceu SOMENTE no cristianismo
primitivo do novo testamento.
Os
estudiosos cristão tendiam a evitar as obras apocalipticas, numa
tentativa de traçar as conexoes entre a profecia e o cristianismo
primitivo ( quer dizer, eram totalmente TENDENCIOSOS, tentando
privilegiar o CRISTIANISMO como um fenomeno EXCLUSIVO e impondo uma aura
de importancia maior do que realmente ele teve no que concerne a este
aspecto).
E mais,
os estudiosos JUDEUS mais velhos TAMBÉM partilhavam dessa aversão geral
pela literatura apocaliptica, julgando-a sectaria, apesar de alguns
pequenos pontos dela se terem introduzido no canon hebraico.
Influenciados pela reação antiapocliptica e antignostica do judaismo
rabinico, os estudoioso judeus buscaram no judaismo da era HELENISTICA e
ate mesmo da epoca do dominio persa os etos predominantes do judaismo
rabinico posterior.
Dessa
forma todos se deram as mãos numa CONSPIRAÇÃO de silncio sobre a questão
do apocalipsismo.
Na
ultima geração o apocalipsismo foi redescoberto, por assim dizer, no que
atoca a sua importancia especial para o estudo das origens cristãs.
O vasto
material de qumran confirmam e reforçam estes novos enfoques. Os novos
dados da biblioteca de qumran vieram transformar o estudo das origens do
cristianismo.
Os
movimentos de JOÃO BATISTA e de JESUS DE NAZARÉ, em seu carater
essencial, devem agora ser redefinidos como APOCALIPTICOS e não como
PROFÉTICOS.
As
comunidades apocalipticas do ultimos seculos antes de cristo constituiam
um fator importante na complexa matriz que serviu de berço para o
cistiansmo e para o judaismo rabinico. Só agora pode-se perceber a
enorme distancia que o judaismo percorreu em sua evolução, desde as
origens dos fariseus, no ambiente religioso multifacetado do periodo
helenistico, até a codificação oral da MISHNÁ ( por volta de 200 antes
de cristo) . Isto não é surpresa se levarmos em conta que num
tempo ainda mais curto, a comunidade cristão passou de suas origens numa
seita judaica, em jerusalem, para a ortodoxia nicena, na bizancio de
constantino.
O
movimento apocaliptico fi uma etapa importante na evoluão da relligiao
biblica, tendo floerescido entre a morte da profecia em sua forma
institucional, no século VI a.c., e o nascimento do judaismo rabinico,
do cristianismo gentio e do gnosticismo, nos século I e II d.c.. Nesse
intervalo de mais de 500 anos, o apocalipsismo judaico constituiu a
corrente principal da vida e também da investigação religiosoas.
Evidentemente tendencias não apocalipticas coexistiram juntamente com o
apocalipsismo, mas nao pode haver duvida de que o movimento apocaliptico
foi um dos antecedentes tanto do judaismo farisaico quanto do
cristianismo mjudaicos. assim como do sincretismo gnositcio que
caracterizou ambos os movimentos nos primeiros seculos da era comum.
Inclusive as descrições simplórias que fazemos das facções judaicas dos
periodos helenistico e romano, nos nossos livros históricos,
deverão ser mais complexas e detalhadas.
Os
saduceus que imaginavamos conservadores em materia de religiao e
burocratas mundanos, agora se revelam criadores de uma ala apocaliptica
radical em qumran ( ver capitulo 3)
Os
fariseus , também se diferenciavam entre si em suas comunas, aceitando
em seu canon obras apocalipticas, como o DEUTERO-ZACARIAS e DANIEL,
apesar de rejeitarem outras, como ENOQUE e os TESTAMENTOS DOS DOZE
PATRIARCAS. De modo geral, entre os fariseus aparentemente predominavam
os moderados, seus elementos radicais se afastaram para aderir ao
movimento dos ZELOTAS, seus membros conservadores foram superados pela
escola de HILEL.
As
descobertas no vale do Jordão , especialmente em qumran inauguraram uma
nova era no estudo da historia do periodo final da religiao biblica e do
movimento das seitas judaicas.
Estudiosos mais velhos preferirão ignorar os novos materiais, a
efervescencia causada por estes é demais para suas cabeças.
Frank
M. Cross termina dizendo saber que não é facil ou agradavel descobrir
que existe um novo manuscito e que nossos livros terão que ser
reescritos. ou então ouvir que existe uma NOVA biblioteca judaica
datando dos séculos III até I a.c., e ter que reexaminar suas
antigas pressuposições, e reestruturarem e recomeçarem tudo do zero.....
eu eu
concluiria : mesmo assim não podemos NEGAR a REALIDADE DOS FATOS, estes
NOVOS ACHADOS , importantes, substanciais, e realmente originais, terão
que ser levados em conta, afinal eles trazem a VERDADE para mais perto
de nós, e com isto não podemos insistir em viver num reino de invenções
ou suposições infundadas ou arcaicas....
(
adaptação de M.A.Müller do artigo de F.M. Cross para revista de
arqueologia biblica )
maio/2009
PRÓXIMA
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