OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO   

 

12 - A LUZ DAS CAVERNAS DO MAR MORTO SOBRE A BÍBLIA

1

Os manuscritos de Qumran, que DIFEREM dos textos aceitos, além de fornecerem dados para a história do texto bíblico, também contém eventualmente leituras de excepcional interesse para a reconstrução do texto original da bíblia.

Em SAMUEL, no texto ACEITO, temos um sério confronto entr Saul e Naás, rei dos amonitas. Saul sai vitorioso e, em consequência, é confirmado como o primeiro rei de Israel.

No relato bíblico que chegou até nós em 1 Samuel 11, Naás sitiou a cidade israelita de Jabes Gileade; os homems da cidade pediram a Naás os termos de rendição. Esses termos foram : além de os israelitas se tornarem servos dos amonitas, os homens teriam o olho direito vazado. Os homens da cidade, então, pediram o prazo de uma semana antes de aceitaar os termos, para ver se seus correligionários viriam em sua ajuda. Saul, sabendo da difícil situação, reuniu a milícia de Israel, cruzou o Jordão e travou batalha com Naás e os amonitas. A vitória de Saul foi esmagadora, liberando Jabes Gileade e , assim, demonstrando sua lidenrança. Logo após, ele foi proclamado rei.

 

Porque Naás resolveu atacar Jabes Gileade? Isto não é dito. A questão é especialmente intrigante porque a cidade ficava ao norte, LONGE da fronteira reinvindicada pelos amonitas. O caso é ainda mais interessante porque o ataque de Naás além de causar sua própria derrota, foi a causa de união de Israel e desencadeador do que originou o surgimento do império israelita, sob o reinda de Davi, no final Amon se viu sob dominio desse império.

O ataque de Naás foi então fundalmental para o futuro tanto de Israel quanto dos Amonitas.

 

Um manuscrito dos livros de Samuel, datado do SÉCULO I A.C. (ANTES de cristo), encontrado na caverna 4 de Qumran, contém uma longa passagem que NÃO APARECE na NOSSA bíblia.

Introduzindo o capítulo 11 de 1 Samuel. Esse manuscrito ( designado 4qSam na literatura técnica) é o mais bem conservado dos textos bíblicos da caverna 4.

O manuscrito pertence a uma tradição de texto palestina, diferente do tipo de texto usado na RECENSÃO RABÍNICA. Na verdade o texto de Samuel aceito é famoso por seus lapsos de escrita, em especial as omissões, este exemplo aqui relatado é só um em umá série de casos, em que os textos desta caverna 4, preserva e revela as PARTES PERDIDAS do texto de Samuel.

 

Eu vou omitir aqui a página de texto bíblico usual de Samuel 1 11, porque dará muito trabalho colocar aqui, o leitor interessado faça o favor de consultar a sua bíblia....

mas posso adiantar que neste relato é dito que Naás sitiou a cidade , mas não é dito PORQUE, e como dissemos antes, é uma cidade muito fora da sua região reinvindicada, o que então torna mais importante o conhecimento de uma causa específica para ele fazer isto,  o manuscrito de qumran da caverna 4, trás o mesmo texto da bíblia, mas incluindo o texto que falta, como o texto de qumran é de ANTES DE CRISTO, então ele é um texto muito mais confiável e integral do que o texto bíblico que chegou até nós nas nossas bíblias, veja a seguir  o texto faltante em itálico e amarelo:

 

Naás, rei dos filhos de Amon, oprimia duramente os flhos de Gade e os filhos de Rubem, e ele vazou todos os seus olhos direitos e infligiu terror e morte a Israel. Não restou nenhum entre os filhos de Israel além do Jordão que não tivesse o olho direito vazado por Naás, fei dos filhos de amon, exceto SETE MIL homens que escaparam dos filhos de amon e entraram em Jabes-Gileade. Cerca de um mes depois , naás o asmonita, subiu e sitiou Jabes-Gileade. Todos os homens de Jabes-Gilead disseram a Naás. "Faz um acordo conosco e nos tornaremos teus súditos." Naás, o amonita, lhes respondeu "com esta condição farei um acordo convosco, que todos os vossos olhos direitos sejam vazados, para que eu imponha humilhação a todo Israel" Os anciãos de Jabes lhe disseram: "concede-nos sete dias para enviarmos mensageiros por todo o território de Israel. Se ninguém vierm em nosso socorro, nos entregaremos a ti "

 

( Quando então Saul sabendo disto, mandou esquartejar bois, e mandar para todos os cantos de israel , dizendo que todos os  israelenses aptos deviam se juntar a ele, senão seus rebanhos  teriam o mesmo destino daqueless bois, para lutarem contra o Naás, e aasim reuniu um grande exército)

 

O texto que faltava revela as partes obscuras da história :

 

- Naás dominava toda a área de um lado do Jordão, e nesta área de domínio ele vazou o olho direito de duas tribos  israelenses ( Gade e Rubem ) , porque VAZAR um ou os dois olhos, era um tipo de pena padrão para insurgentes , rebeldes  e traidores , naquela época e praticada por vários povos e reinos.

- Desta rebelião, na área de domínio dos asmonitas, 7.000 conseguiram escapar , foram para o norte, FORA da área de domínio do Naás, e se refugiaram na cidade de Jabes Gileade.

- Naás foi atrás deles, sitiou a cidade por este motivo, e foi também por este motivo que seu único acordo era de vazar o olho direito de TODOS os habitantes da cidade, porque ela havia dado abrigo a traidores ou rebelados, que já mereciam este tipo de pena, e então era o mesmo que devia acontecer  a esta cidade.

 

--- Parece que o trecho omitido provavelmente se perdeu como resultado de um lapso do escriba, no ato de passar de uma linha para outra, sua vista saltou para uma bem mais abaixo, ambas começando  pela palavra Naás.

 

---Se alguém sugerir  que esta parte fosse um "acréscimo posterior" ( ao TEXTO ORIGINAL veja bem , aquele que não se conhece hoje em dia) , o que chamam de expansão HAGÁDICA, não se nota qualquer indício disto, pois as expansões hagádicas são colocadas com fins de DOUTRINA, onde se encontra elementos edificantes, ou inclinação teológica, já o texto em questão apresenta meramente FATOS, com conotação puramente histórica.

E ainda tem-se uma série de sinais reveladores de que a passagem incluída estava no original.

Por exemplo, no texto aceito de Samuel, o rei dos amonitas, ao aparecer pela primeira vez, é  apresentado simplesmente como Naás, o amonita,  isto é um fato muito extra-ordinário. Nos livros de samuel e reis, ao contrário, encontramos um padrão INvariável, quando um monarca reinante de uma nação estrangeira é mencionado pela primeira vez, usa-se seu título completo ou oficial. Fulano, Rei de .......... , pode-se contar 20 exemplos destes nos livros citados e ocorrem mesmo em toda a  história deuteronomica, e é quebrado esta regra somente no texto ACEITO de samuel citado neste resumo, mas quando juntamos a parte que faltava como revela o manuscrito antigo de qumran, está lá o Naás primeiramente citado como o REI DOS FILHOS DE AMON....

E mais, incidentalmente em outra descoberta arqueológica, em Tel Siran, um inscrição amonita refere-se a NAÁS com o MESMO título :  REI DOS FILHOS DE AMON.

 

Agora com este trecho que temos a partir da arqueologia de qumran, podemos reconhecer que JOSEFO TAMBÉM o tinha em sua bíblia. em Antiguidadese Judaicas ( 6. 68-70), pois parece parafrasear o texto de samuel encontrado na caverna 4.

 

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2

Outra importante área de estud que será grandemente afetada pelsa descobertas dos manuscritos de Qumran é a história da religião bíblica , ou talvez se deva dizer a EVOLUÇÃO da religião bíblica.

 

Hoje podemos comparar os salmos do saltério canonico com o conjunto de hinos helenísticos posteriores nos salmos encontrados na caverna 11.

Também podemos descrever a evolução das leis da escravatura na palestina sob o dominio da pérsia, com base nos papiros da Samaria.

Porém onde a descoberta dos manuscritos de qumran causou mais impacto foi sobre a nova visão do movimento apocalíptico e seu lugar na história dos últimos tempos da religião bíblica.

O termo apocalíptico normalmente evoca o livro de daniel, um exemplar posterior e desenvolvido da literatura apocaliptica. A biblia também inclui um apocalipse muito anterior no livro de isaías ( capitulos 24-27), cuja data tem sido debatida há várias gerações de estudiosos da biblia. Qumran no tras agora uma enorme literatura apocaliptica e obras marcadas pela escatologia apocaliptica.

 

Conforme nos mostra a literatura de Qumran, os apocalipticos encaravam a historia do mundo em termos de forças antagonica, deus e satã, os espirtios da verdade e do erro, luz e trevas.

A luta de deus com o homem e deste com o pecado. Temas dualistas de mitos arcaicos se transformaram em itos HISTÓRICOS. O mundo, cativo das forças do mal e de principados ( coros de anjos) que haviam recebido autoridade nos tempos da ira divina, somente poderia ser libertado pelo poder divino. Os adeptos do apocalipse viam, ou acreditavam ver, a aurora do dia da slavação e do julgamento de deus. A era antiga havia chegado ao fim do seu tempo determinado e a era da consumação estava proxima, quando ,então, o mundo seria redimido, e os escolhidos inocentados.

O messias estava prestes a chegar, o armagedon já havia começado, as forças stanicas, encurraladas, ja se agitavam numa ultima convulsaõ desafiadora, menifestada por perseguições, tentações e tribulações para os fiéis. Em suma, os apocalipticos viviam num mundo onde a supremacia de deus era a unica esperança de salvação.

 

O apocalipsismo foi considerado geralmente um FENOMENO TARDIO e de vida curta no judaismo. Essa visão, porém, está mudando, à luz da grande quantidade de dados novoso e da pesquisa meticulosa que utiliza informações antigas e novas.

As partes mais antigas da literatura de ENOQUE , por exemlo, atribuidas a uma geração antes do periodo romano ( após 64 a.c.) ou no máximo, ao final do periodo helenistico ( seculo II ou inicio seculo I a.c.) devem agroa ser redatadas para o final do periodo persa ( ´seculo IV a.c.) . De fato temos um  manuscrito de enoque  de 200 a.c. , e evidentemente não é o original . Estudos sobre a antiga literatura biblica apocalitptica  ( ou PROTO-apocaliptica) em especial o apocalipse de Isaías ( isaías 24-27) demonstraram que a sua data deveria ser fixada no século 4 antes de cristo. Na verdade as primeiras notas de DUALISMO e ESCATOLOGIA surgem , como o declinio da profecia CLASSICA nos seculos VI e V a.c. . E atualmente é reconhecido que as obras proto-apocalipticas, juntamente com as apocalipticas posteriores refletem uma evolução religiosa que se estendeu por mais de meio milenio.

No inicio deste seculo e no seculo passado o apocalipsismo era pouco mencionado nos estudos sobre a religiao de israel, era tratado como um produto idiossincratico de alguns visionairos judeus, um fenomeno marginal.

Veja esta parte do texto, que ilustra bem a questão :

 

Para os estudiosos cristão com ideias mais antigas, a religiao biblica se desenvolveu segundo uma dialetica em que o "espirito livre, ético e histórico" da religião profética ficou congelado num legalismo cujas "formas escrazivantes e estaticas" marcaram a religião PÓS-EXILIO. Para eles o "espirito livre e benigno " da era da profecia REapareceu SOMENTE no cristianismo primitivo do novo testamento.

Os estudiosos cristão tendiam a evitar as obras apocalipticas, numa tentativa de traçar as conexoes entre a profecia e o cristianismo primitivo ( quer dizer, eram totalmente TENDENCIOSOS, tentando privilegiar o CRISTIANISMO como um fenomeno EXCLUSIVO e impondo uma aura de importancia maior do que realmente ele teve no que concerne a este aspecto).

E mais, os estudiosos JUDEUS mais velhos TAMBÉM partilhavam dessa aversão geral pela literatura apocaliptica, julgando-a sectaria, apesar de alguns pequenos pontos dela se terem introduzido no canon hebraico. Influenciados pela reação antiapocliptica e antignostica do judaismo rabinico, os estudoioso judeus buscaram no judaismo da era HELENISTICA e ate mesmo da epoca do dominio persa os etos predominantes do judaismo rabinico posterior.

Dessa forma todos se deram as mãos numa CONSPIRAÇÃO de silncio sobre a questão do apocalipsismo.

Na ultima geração o apocalipsismo foi redescoberto, por assim dizer, no que atoca a sua importancia especial para o estudo das origens cristãs.

O vasto material de qumran confirmam e reforçam estes novos enfoques. Os novos dados da biblioteca de qumran vieram transformar o estudo das origens do cristianismo.

Os movimentos de JOÃO BATISTA e de JESUS DE NAZARÉ, em seu carater essencial, devem agora ser redefinidos como APOCALIPTICOS e não como PROFÉTICOS.

 

As comunidades apocalipticas do ultimos seculos antes de cristo constituiam um fator importante na complexa matriz que serviu de berço para o cistiansmo e para o judaismo rabinico. Só agora pode-se perceber a enorme distancia que o judaismo percorreu em sua evolução, desde as origens dos fariseus, no ambiente religioso multifacetado do periodo helenistico, até a codificação oral da MISHNÁ ( por volta de 200 antes de cristo) . Isto não é surpresa se levarmos em conta que  num tempo ainda mais curto, a comunidade cristão passou de suas origens numa seita judaica, em jerusalem, para a ortodoxia nicena, na bizancio de constantino.

O movimento apocaliptico fi uma etapa importante na evoluão da relligiao biblica, tendo floerescido entre a morte da profecia em sua forma institucional, no século VI a.c., e o nascimento do judaismo rabinico, do cristianismo gentio e do gnosticismo, nos século I e II d.c.. Nesse intervalo de mais de 500 anos, o apocalipsismo judaico constituiu a corrente principal da vida e também da investigação  religiosoas. Evidentemente tendencias não apocalipticas coexistiram juntamente com o apocalipsismo, mas nao pode haver duvida de que o movimento apocaliptico foi um dos antecedentes tanto do judaismo farisaico quanto do cristianismo mjudaicos. assim como do sincretismo gnositcio que caracterizou ambos os movimentos nos primeiros seculos da era comum.

Inclusive as descrições simplórias que fazemos das facções judaicas dos periodos helenistico e romano, nos nossos livros  históricos, deverão ser mais complexas e detalhadas.

Os saduceus que imaginavamos conservadores em materia de religiao e burocratas mundanos, agora se revelam criadores de uma ala apocaliptica radical em qumran ( ver capitulo 3)

Os fariseus , também se diferenciavam entre si em suas comunas, aceitando em seu canon obras apocalipticas, como o DEUTERO-ZACARIAS e DANIEL, apesar de rejeitarem outras, como ENOQUE e os TESTAMENTOS DOS DOZE PATRIARCAS. De modo geral, entre os fariseus aparentemente predominavam os moderados, seus elementos radicais se afastaram para aderir ao movimento dos ZELOTAS, seus membros conservadores foram superados pela escola de  HILEL.

 

As descobertas no vale do Jordão , especialmente em qumran inauguraram uma nova era no estudo da historia do periodo final da religiao biblica e do movimento das seitas judaicas.

Estudiosos mais velhos preferirão ignorar os novos materiais, a efervescencia causada por estes é demais para suas cabeças.

 

Frank M. Cross termina dizendo saber que não é facil ou agradavel descobrir que existe um novo manuscito e que nossos livros terão que ser reescritos. ou então ouvir que existe uma NOVA biblioteca  judaica datando dos séculos III até I a.c., e ter que reexaminar  suas antigas pressuposições, e reestruturarem e recomeçarem tudo do zero.....

eu eu concluiria : mesmo assim não podemos NEGAR a REALIDADE DOS FATOS, estes NOVOS ACHADOS , importantes, substanciais, e realmente originais, terão que ser levados em conta, afinal eles trazem a VERDADE para mais perto de nós, e com isto não podemos insistir em viver num reino de invenções ou suposições infundadas ou arcaicas....

 

 

( adaptação de M.A.Müller do artigo de F.M. Cross para revista de arqueologia biblica )

 

maio/2009

 

 

 

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