OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO   

 

6 - O DOCUMENTO DE DAMASCO

 

             Em 1897 foi encontrado numa GUENIZÁ , um depósito de sinagoga, onde se guardam cópias de textos sagrados, um pergaminho datado do século XI, ou seja um documento medieval, que continha um texto em hebraico antigo, o tipo de escrita era hebraico primitivo  que era usado antes da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., não tinha nenhuma das modificações que ocorreram na língua hebraica após a destruição do templo no ano 70, o que vale dizer que o texto era uma transcrição literal de um texto muitíssimo mais antigo que a idade média, era um texto de antes do ano 70 antes de cristo.

              O texto foi encontrado na milenar sinagoga de BEN ENZRA em Fostat no Cairo, um importante centro judaíco nos séculos XI e XII.

 

 

              Solomon Schetcher foi o estudioso que o encontrou e o estudou. O relato do que o pergaminho continha deixou o mundo científico da época desconcertado, pois o texto falava de uma seita judaica com características próprias e peculiares, com muitas particularidades, que não pertenciam claramente a nenhuma seita conhecida nos anais da história judaica. 

               O relato de Schechter falava de uma estranha e muito bem estruturada e desconhecida irmandade judaica dos tempos do Segundo Templo, que se caracterizava por fervorosa piedade, propriedade comum dos bens e crença num messias. As diferenças doutrinárias com o judaísmo dominante levaram-na a um completo isolamento da maioria da nações judaicas, foi o que conjecturou Schechter. 

              O interessante é que muito do que Schechter traduziu e concluiu do texto viria a coincidir exatamente com o que se encontraria  50 anos mais tarde, em 1947, com a descoberta dos manuscritos do mar morto, Solomon Schechter entretanto nunca sequer sonhou em Qumran, na sua comunidade misteriosa, e morreu antes dessa descoberta, porém mesmo assim foi ele o primeiro que conseguiu nos dar o primeiro retrato reconhecível desta seita de Qumran.

               Seu registro da história e das leis da irmandade continha a maior parte dos misteriosos e intrigantes personagens, lugares e eventos que eram tão peculiares a SEITA DE QUMRAN onde foram encontrados os manuscritos do Mar Morto.

               Em seu estudo sobre o DOCUMENTO DE DAMASCO, publicado em 1910, Schechter já falava do desconhecido chefe da seita, O MESTRE DA JUSTIÇA, e de seu terrível inimigo, O HOMEM DO ESCÁRNIO.

Falou também da seita ter empreendido um "fuga para Damasco" ( daí o nome "documento de damasco")  para escapar á perseguição em sua terra e de lá ter adotado uma NOVA ALIANÇA. Ainda revelou que mesmo após a morte do Mestre da Justiça, a seita acreditava que, permanecendo fiel a seus ensinamentos, ele retornaria com um MESSIAS.

              Neste ponto se percebe que este documento tem os mesmos personagens e fatos que foram encontrados nos MANUSCRITOS DO MAR MORTO, como o COMENTÁRIO DE HABACUC e o MANUAL DA DISCIPLINA. 

 

CARAÍSMO

 

                 Solomon Schechter conseguiu remover da Guenizá do Cairo todos os pergaminhos e manuscritos ancestrais que estavam lá acumulados ao longo dos séculos, em 1910 publicou 2 volumes sobre 2 textos mais incomuns do que encontrara no Cairo. O nome da obra era DOCUMENTOS DAS SEITAS JUDAICAS, o volume II tinha o título de FRAGMENTOS DO LIVRO DOS MANDAMENTOS DE ANAN.

ANAN é considerado o oitavo fundador do CARAÍSMO, uma dissidência judaica baseada na interpretação literal das escrituras sagradas rejeitando o TALMUDE e a TRADIÇÃO ORAL, esta seita ainda existe com um pequeno número de seguidores.No volume I tem uma parte chamada, FRAGMENTOS DE UMA OBRA DOS ZADOQUEUS,  e é nesta parte que ele relata os achados do DOCUMENTO DE DAMASCO, que hoje em dia é considerado o PRIMEIRO manuscrito do mar morto. 

                   O documento de Damasco é um códice, ou seja um livro, consiste de 2 manuscritos imcompletos e parcialmente coincidentes, sendo o primeiro do século X e o segundo do século XII, ambos escritos em hebraico bíblico, sem as evoluções da língua hebraica que ocorreram depois do ano 70 d.C. A partir do que Schechter traduziu, leu e estudou ele tirou conclusões surpreendentes, dignas de um verdadeiro sábio. Ele escreve : " A seita deve ter possuído também alguns pseudo-epígrafos, hoje perdidos". e continua em outras partes: "isso poderia sugerir que a seita possuía algum tipo de manual contendo suas doutrinas e, talvez, um conjunto completo de regras de disciplina". 50 anos depois com a descoberta dos manuscritos do mar morto, todas estas afirmações proféticas foram totalmente comprovadas.

 

SEITA DO ZADOQUES

 

O DOCUMENTO DE DAMASCO revela a história de uma seita judaica que se considerava o VERDADEIRO ISRAEL e que se opunha ferozmente aos dirigentes religiosos judeus de Jerusalém. O início da seita pode ser de certo modo determinado até uma chamada "IDADE DA IRA", que ocorreu em 196 antes de Cristo, 390 anos após a destruição de Jerusalém pelos babilônicos ( em 586 a.C.)

Durante esta idade da ira as pessoas piedosas procuravam em vão o caminho da justiça. Um MESTRE DA JUSTIÇA enviado por DEUS surgiu para guiá-las , mas um poderoso inimigo apareceu também, o HOMEM DO ESCÁRNIO. Em consequência o Mestre e seus seguidores fugiram da Judéia para a terra de Damasco, onde adotaram uma NOVA ALIANÇA e onde também o mestre foi "recolhido". Esperava-se que ele surgisse novamente no FINAL DOS TEMPOS.

A segunda parte do documento de Damasco contém as leis da seita, que refletem uma orgtanização altamente estruturada.

Os membros da seita se dividiam em sacerdotes, chamados FILHOS DE ZADOQUE, levitas, israelitas e prosélitos. As leis também tem sua interpretação pessoal sobre injunções bíblicas como a estrita observância do SHABAT, a absoluta monogamia sem divórcio, e severas regras de limpeza como parte da prática religiosa. A seita seguia um calendário heterodoxo, com um ano de 12 meses, cada um com 30 dias e mais 4 intercalados.

Schechter aventou a hipótese de que o povo do manuscrito ser a misteriosa SEITA DOS ZADOQUES, mencionada nos poucos conhecidos textos CARAÍTAS.

 

ZADOQUE foi o principal sacerdote do REI DAVI e fundador da linhagem de onde saíram todos os SUMOS SACERDOTES do Templo, até o século II antes de Cristo.

A partir daí sob o domínio Grego, o posto de sumo sacerdote era dado a quem oferecesse o maior lance, até que sob os MACABEUS, os próprios ASMONEUS assumiram. Para os membros da seita do documento de damasco todos os sumos sacerdotes que não foram da linhagem de zadoque eram usurpadores.

 

Na Caverna 4 de Qumran que continha quase 15000 fragmentos de pergaminhos, pertencentes a mais de 500 manuscritos, foi possível descobrir ao menos 7 cópias do DOCUMENTO DE DAMASCO!

Desta vez estava comprovado que o pergaminho medieval do documento de damasco era mesmo uma cópia integral e fiel de um texto de 2000 anos atrás.

 

JOÃO BATISTA - JESUS CRISTO - APÓSTOLO PAULO

 

Na época em que foi publicado o estudo de Solomon Schechter sobre o Documento de Damasco o curador dos manuscritos hebraicos do museu britânico, Dr. George Margoliouth anunciou suas próprias conclusões sobre o texto estudado por Schechter :

 

Segundo Margoliouth o texto se originava de uma primitiva comunidade judaico-cristã  que se empenhava em combinar a total observância da Lei Mosaica com os princípios da NOVA ALIANÇA. Pelo que Margoliouth entendeu do documento de damasco, a seita tinha 2 messias, o primeiro sacerdotal, descendente de Arão, e seria JOÃO BATISTA; o outro, o Mestre da Sabedoria (ou Mestre da Justiça) seria JESUS. Quanto ao Homem do Escárnio, este seria PAULO de Tarso, que a seita abominava, pois Paulo era cidadão romano convertido ao Cristianismo e um HELENIZADOR cristão.

Mas vale dizer que estas conclusões foram tiradas em 1910, nesta época só era sabido que o documento de damasco era um texto da época de Jesus, sem definição de data ou quaisquer outros detalhes. Com a descoberta dos MANUSCRITOS DO MAR MORTO pode-se verificar que o Documento de Damasco falava sobre a COMUNIDADE DE QUMRAN, e nas cópias do documento de damasco encontradas nas cavernas de Qumran pode-se datar a criação do texto em 80 a 75 antes de Cristo.

 

 

CONTINUA EM BREVE...

 

 PRÓXIMA

 

HOME

ÍNDICE E PÁGINA INICIAL SOBRE OS MANUSCRITOS