OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO   

 

9 - O PERGAMINHO DO TEMPLO x CRISTIANISMO PRIMITIVO

 

Este capítulo é continuação do precedente, baseado também no artigo de Yigael Yadin o arqueólogo estudioso do PERGAMINHO DO TEMPLO.

O autor do artigo para a revista arqueológica bíblica publicou um estudo detalhadíssimo sobre o pergaminho do Templo num trabalho em 3 volumes.

 

O Pergaminho do Templo faz uma rígida interpretação das leis bíblicas, também estipula regras à cidade santa de Jerusalém inteira tão rígidas como no acampamento do tabernáculo do deserto.

Por exemplo:  assim como no acampamento do deserto, as necessidades fisiológicas não podiam ser feitas dentro da cidade, então eles construíram banheiros públicos nos limites da cidade, e tinham que sair para lá para realizar suas necessidades, a distância para os sanitários era de 3000 cúbitos dos limites da cidade, porém uma regra do sabhat não permite que se ande mais de 3000 cúbitos neste dia, então no dia do sabhat não se podia alcançar as latrinas e consequentemente não se podia ir ao banheiro.

O historiador Josefo que no século I d.C. viveu entre os essênios confirma que ele realmente obedeciam estas regras, e ele também fala de uma porta na cidade de Jerusal´me que não é mencionada em nem um outro lugar, ele a chama de PORTA DOS ESSÊNIOS, é provável que esta fosse a porta que usavam para sair para as latrinas.

Josefo fala que a porta ficava próximo a um local chamado Betsoa que quer dizer lavatório.

 

Outras proibições das regras Essênias :

Eram totalmente proibidas as relações sexuais dentro de Jerusalém, isto pode ser um indício do celibato como doutrina.

As pessoas com sinal de impureza eram impedidas de entrar na cidade e ficavam confinada a locais construídos a leste da cidade.

O pergaminho do templo também proíbe os leprosos de entrarem em Jerusalém, como o foram no deserto.

São 3 lugares especiais preparados fora da cidade:

-O local para evacuar

-O local dos que tiverem tido uma descarga noturna (sexo)

-O local onde ficam separados os leprosos. (sempre a leste)

 

Os leprosos ficavam sempre a leste, porque os judeus acreditavam que a lepra se disseminasse com o vento, que lá sopra de oeste para leste, pois bem, a leste de Jerusalém, na encosta oriental do monte das oliveiras havia uma colônia chamada Betânia, é provável que ali fosse um lugar para os leprosos.

 

Muitas pessoas fizeram comparações com a seita dos essênios e o cristianismo primitivo, muitas vezes afirmando que Jesus era um essênio, ou pró pensamento essênio. Mas não é isto que o estudo do judaísmo primitivo e os atos de Jesus e os apóstolos parece demonstrar.

 

Que houve influência do pensamento essênio sobre o cristianismo primitivo isto é evidente, mas não sobre o pensamento de Jesus de Nazaré, pelo contrário, Jesus parecer ser anti-essênio e anti-fariseu.

 

Práticas e doutrinas cristãs que se achavam inovadoras para a época de Cristo, depois da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto , foi evidenciado  que eram parte da seita de Qumran, e conhecidas dos essênios a já 200 anos antes. Não eram inovações cristãs.

 

Porém a influência essênia no cristianismo deve ser avaliada em diferentes extratos temporais.

Note-se que o cristianismo hoje em dia, NÃO É calcado exclusivamente no pensamento de JESUS.

As idéias exclusivas de Cristo foram modificadas de certa maneira por  grandes personalidades que espalharam a boa nova cada um a sua maneira e conforme seu ponto de vista.

2 delas são  PAULO e JOÃO BATISTA. 

As doutrinas e as práticas de JESUS, JOÃO  e  PAULO não são iguais, os manuscritos do mar morto servem para esclarecer essas diferenças.

 

JESUS

Esteve propositalmente na casa de Simão, um leproso,  antes de entrar em Jerusalém.

O Sermão da Montanha alude a uma crítica aos essênios, Jesus diz à multidão : 

"Ouviste o que foi dito... odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo, amai vosso inimigos."

Quem disse "Odiarás teu inimigo" ? Não existe doutrina em nenhum texto judaico que afirma tal preceito, porém  no MANUAL DA DISCIPLINA que é um livro de leis básicas dos essênios está escrito que os integrantes da seita devem jurar amar os filhos da luz (os integrantes da própria seita) e odiar os filhos das trevas ( TODOS os NÃO essênios).

Também no evangelho de Marcos, nota-se uma postura anti farisaica e anti essênia, conta que Jesus está num barco no mar da Galiléia e tem apenas um pão, os discípulos se preocupam e Jesus os censura: Guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes.

Os essênios eram especialmente protegidos de Herodes e por vezes chamados de herodianos.

A explicação e as palavras subsequentes de Jesus nesta passagem são de difícil explicação no contexto desta síntese, e eu recomendo a leitura do artigo de Yigael Yadin no livro de Hershel Shanks.

 

JOÃO BATISTA

Ele tem um relacionamento muito diferente com os essênios, pode até ter sido um membro da comunidade.

Ele atuava na região em torno de Qumran, observava o celibato e provinha de família de sacerdotes. O tipo de batismo que ele pregava, e lhe valeu o cognome Batista, também era praticado pelos essênios, e que sabe-se não só pela literatura dos manuscritos mas também pelas instalações encontradas em Qumran.

Os outros judeus praticavam banhos rituais em água viva, isto é, água corrente, ou com ao menos um canal de água viva num tanque para purificar esta água. Já os essênios praticavam o batismo numa piscina de água parada.

O batismo dos primórdios do cristianismo pode ter sido adotado por influênica dos essênios , por intermédio de João Batista.

 

PAULO

As epístolas de Paulo tem as maiores semelhanças entre os essênios e o cristianismo primitivo.

Os filhos das trevas e os filhos da luz.

A refeição comunal comum a Qumran e ao primeiros cristãos; parecem influências vindas de Paulo.

Paulo era um fariseu, foi convertido no caminho para Damasco, queria libertar o povo das restrições da lei mosaica, mas como ser um judeu sem tais leis. 

Os essênios apesar de uma seita rígida de ortodoxia judaica, servia ao propósito, pois repudiavam o templo de Jerusalém, tinham seu próprio calendário, e leis próprias. Privados de um templo legítimo, desenvolveram uma teologia e prática religiosa que lhes permitiam viver sem aquela casa de culto, em seus próprios centros monásticos, como o deserto de Qumran.

Os essênios rejeitavam o  templo de Jerusalém  e seu culto, assim como os primeiros cristãos , isto propiciou a influência dos essênios sobre os cristão, é natural.

MESMO em se levando em conta que o cristianismo iria ser levado a negar totalmente tudo aquilo que os essênios mesmo queriam preservar e resgatar.

O cristianismo afinal era em essência anti judaico, mas sofreu alguma influência de uma única seita minoritária porque partilhava uma oposição ao judaísmo dominante.

Mas note-se que as rejeições dos essênios eram TEMPORÁRIAS, sua oposição cessariam "quando os exilados dos filhos da luz voltassem do deserto para acampar no deserto de Jerusalém" (pergaminho da guerra)

Já o cristianismo não, nunca voltaria a ter relações de poder com o templo de Jerusalém, com o pontificado judaico, iria sempre através dos tempos se afastar cada vez mais.

 

-Ainda bem para Jesus, porque suas idéias prevaleceram, a maculação ocorrida pelas idéias dos apóstolos é coisa natural que sempre ocorre, os homens são INDIVÍDUOS, acima de tudo.

Conhecendo as idéias radicais essênias é de sentir alívio que Jesus não fosse um essênio ou pró-essênio.

Não há coisa pior na humanidade como sociedade que o FANATISMO RELIGIOSO. (nota do autor desta página)

 

Alguns enigmas cristãos que recebem alguma luz no estudo dos manuscritos de Qumran.

 

O sistem de calendário solar  essênio fazia com que os feriados caíssem sempre no mesmo dia da semana, os essênios tinham os feriados novos ou anteriormente desconhecidos, descritos no pergaminho do templo, eles calculavam as datas destes festivais e eles começavam num DOMINGO. 

Note que assim o domingo passa a ser um dia muito importante, hoje no mundo cristão é o Domingo que domina, não o Sábado.

 

O judaísmo rabínico entendia que o deuteronômio limitava a 18 as esposas do rei, basenado-se no fato de que o rei DAVI teve 18 esposas.

O pergaminho do templo, ao contrário diz que :

O rei não tomará outra esposa, pois somente ela estará com ele todos os dias da vida dela. Porém se ela morrer ele pode tomar para si outra esposa

Esta é uma clara norma contra a bigamia e o divórcio. Esta talvez tenha sido a precursora da doutrina cristã sobre o assunto.

 

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